quarta-feira, 21 de abril de 2010

Meio século, uma nação

A nova capital “era um rabisco e pulsava”, já diria Carlos Drummond de Andrade, referindo-se ao projeto entregue por Lúcio Costa no concurso que estruturaria o maior ideário de Juscelino Kubitschek. “Sapo pula por precisão, não por boniteza”, esse era o sentimento de JK, refletido em palavras de Guimarães Rosa, de que o Brasil era praticamente ingovernável no Rio, a antiga capital. Olhemos para trás e lembremos a figura de Getúlio Vargas, sua radicalização nacional-desenvolvimentista, seu isolamento político e a intensificação virulenta das campanhas de oposição ocasionando seu gesto trágico de suicídio. Bem, JK “entrou para a História” de forma mais honrosa, conseguiu alcançar boa parte do seu Plano de Metas e construiu a pomposa capital que hodiernamente é mais conhecida pelo povo como um grande centro de escândalos políticos nacionais. José Roberto Arruda, ironicamente iniciou sua carreira na Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital), deixou seu mandato cassado pelo TRE há um pouco mais de um mês, no ano de comemoração dos 50 anos de Brasília e disse pouco antes que a construção de Brasília significou o “redescobrimento do Brasil”.

Brasília de fato foi um marco, há quem diga que o 21 de Abril de 1960 é um instante fundador tanto quanto foram o 7 de Setembro de 1822 e o 15 de Novembro de 1889. Brasília foi um marco para muitos aspectos do Brasil, para a sociedade no caminho para o oeste, para as contas nacionais, para a arquitetura de Niemeyer, para os 20% de ferro utilizados por Joaquim Cardozo nas tramas do Alvorada (6% era o patamar estabelecido pelas normas internacionais). Brasília é cheia de belezas, há o que comemorar. Estamos longe da “maior crise política da história” como alarma alguns jornais brasileiros, somos ao menos um país cada vez mais democrático em que o povo vota, se empenha cada vez mais em fiscalizar os governantes. Temos liberdade de imprensa, liberdade de expressão e liberdade de associação. Somos acometidos por mazelas do subdesenvolvimento sim, sofremos de desigualdade de renda, corrupção, déficit em educação. Poderia listar centenas de pontos a melhorar assim como centenas de pontos aperfeiçoados da conjuntura de 50 anos atrás para a atual.

Meio século se passou com muitas mudanças. Os próximos 50 se terá mudado muito mais. O que não dá é pra pensar que para comemorar esse projeto visionário teríamos que estar numa sociedade perfeita, justa e igualitária. O que também não quer dizer que deveríamos conformar que a realidade é complexa e que o desenvolvimento humano e sustentável é algo difícil de alcançar. Ora, caminhemos para isso! Enfim, Brasília significa muito mais que um jogo de erros e acertos que sempre acontecerão na política brasileira, é mais que um patrimônio da nação brasileira, é patrimônio da humanidade. Brasília é humana, por isso, imperfeita.


“Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”
JK – Livro de Ouro


Missão Cruls, 1892-1893 - Primeiro levantamento da região do Planalto Central

“Há quem confunda pioneiro com bandeirante, já que ambos fazem do desbravamento sua atividade habitual. Entretanto, uma diferença enorme os distancia. O bandeirante descobre e passa à frente. Sua sina é avançar. Fincar um marco. Poda uma árvore. Faz um monte de pedras. É tudo o que deixa, como sinal de passagem. Trata-se de uma imagem fugidia. Brilha, e desaparece. Já o pioneiro é influenciado pela atração da terra. Descobre e fica. É um símbolo do que se projeta através de um ânimo de permanência. A jornada pode ser longa, mas a parada – quando ocorre – é quase sempre mais longa ainda. Planta e espera pela colheita. Não deixa sinal de sua passagem, porque ele próprio se detém. E do seu rastro, que por algum tempo foi efêmero, brotam valores duradouros: povoados, que se transformam em vilas; vilas que se convertem em cidades; e cidades que armam a estrutura de uma civilização”
JK – Por que Construí Brasília

Cidade Administrativa recém inaugurada na região metropolitana de Belo Horizonte e Edifício do Congresso Nacional em inaugurado há 50 anos.

Uma coisa que noto quando olho para trás é que, quando comecei Brasília, eu pensava exatamente igual hoje”

Oscar Niemeyer